segunda-feira, 14 de abril de 2008

Entrevista - George Gonçalves

Nesses dias que se passou, aqui no SkateemFoco apresentei o protesto e indignação dos skatistas de uma cidade, em questão Tubarão/SC, com relação ao descaso das autoridades municipais em relação a um dos poucos espaços públicos para se praticar o esporte no município.

É lamentável saber que o poder público e a sociedade em geral, ainda visualizam o skate como brincadeira de criança, além de marginalizar o esporte.

Então resta a nós, os marginalizados fazer o que?

Como resposta gostaria de apresentar uma entrevista que fiz com o Presidente da UBER (União Blumenauense de Esportes Radicais), o skatista George Gonçalves, com a intenção de mostrar para toda uma legião de praticantes e simpatizantes do skate, que "persistência", amor ao "carrinho" e união dos skatistas locais é capaz de, mesmos com dificuldades, reverter esse quadro e trabalhar junto com o poder público em prol ao skate, basta acreditar.

Segue abaixo a entrevista: George Gonçalves, 37 anos, 25 de skate.

Fernando Faisca: Como você conheceu o skate?

George Gonçalves: Conheci o skate depois de passar pelo carrinho de rolimã e do surf. Com 13 anos de idade e com a impossibilidade de freqüentar a praia diariamente, optei pelo skate, levando meu pai a loucura, pela quantidade de lajota quebrada em casa.

Fernando Faisca: Quais os skatistas que fizeram parte do seu início com o skate?

George Gonçalves: Nessa época tive que começar a andar de skate no centro da cidade de Blumenau, então conheci os skatistas Leke, Rafael Condé, Andréas, Márcio Testoni, Cristian Weiler, Dum Dum e mais uma quantidade de outros amigos. Dessas amizades em diante foi fácil começar a conhecer outras cidades e campeonatos da região de Joinville, Itajaí, Balneário Camboriú e Florianópolis.

George Gonçalves - f/s rock


Fernando Faisca: Quais os eventos amadores que já participou?

George Gonçalves: Participei de eventos na extinta pista da Varial Skate, em Florianópolis e Salesiano, em Itajaí. Em 1991, participei do Skate Rock Contest, em Blumenau, andando junto com os profissionais Rodil Ferrugem, Carlos Piolho, Nilton Urina, André Hiena que eram todos amadores naquela época. Neste evento me lembro que foi meu amigo Rafael Condé quem levou a melhor no amador, que 2 anos depois parou de andar de skate por pressão da família.

Participei também do antigo e conhecido Circuito Maha Amador, aonde andei junto com skatistas que mais tarde seriam meus ídolos como: César Gordo, Marcos Mamá, James Bam Bam, Materson Magrão, Alex Carolino entre outros skatistas que hoje são profissionais.

O último evento que participei foi da ASISC, na Lupus Beer, na ilha de Florianópolis, no ano de 2000.

Fernando Faisca: Antigamente o skate era menos conhecido. Então muitos pais não apoiavam a idéia de ter um filho jovem em casa, que apenas andasse de skate. Você teve essa pressão por parte de sua família?

George Gonçalves: Aos 18 anos meu pai mandou eu escolher, ou skate ou rua. Escolhi o skate por opção e decidi arriscar a vida fora de casa.

George Gonçalves - flip


Fernando Faisca: O skate lhe proporcionou conhecer lugares diferentes. Quais os lugares que você já andou?

George Gonçalves: Através do Skate, tive a oportunidade de andar em lugares bem conhecidos no meio do esporte como: Vale do Anhangabaú, Pista do Gaúcho, Jardim Ambiental, Drop Skate Park, Pista da Cônsul, além outros lugares do estado de Santa Catarina.

Fernando Faisca: Como surgia a idéia da criação da UBER?

George Gonçalves: Sofremos muito com a lei criada em 1995 que proibia andar de skate e veículos similares nas calçadas e ruas de Blumenau. Então em 1998, resolvi junto com alguns amigos como Julio César Jr, Carlos Cabeça (hoje DJ), Ricardo Negão e outros, criar a UBER (União Blumenauense de Esportes Radicais), com o objetivo de reivindicar ações do poder público e ajudar os esportes de ação do município.

Fernando Faisca: Quais as primeiras ações da UBER?

George Gonçalves: A primeira ação da UBER foi à restauração da pista da Prainha, que foi construída no ano de 1989. Para a restauração foram realizados os primeiros eventos da UBER, intitulados como Help 1, 2 e 3, onde com a verba conseguimos finalizar a reforma da pista. Nela já passaram nomes como: Alexandre Ribeiro, Márcio Tarobinha, Rafael Cabral, Alexandre Spock, Fábio Pen, Marcelo Marreco, Adones Santiago, Junae Ludwig, Sérgio Negão, Marcelo Kosake, entre outros mais.

Outros circuitos foram realizados também pela UBER, agregando outros esportes como o IN-LINE e o BMX, tornando os esportes radicais de Blumenau em evidência por todo o país.

Fernando Faisca: Fale um pouco sobre o Projeto Escola Radical?

George Gonçalves: Com a aceitação da comunidade e do poder público em relação a UBER, facilitou a criação em 2007, do Projeto Escola Radical implantando nos colégios municipais, apresentações dos esportes skate, bike bmx e patins in-line para as crianças.Também teve o início do projeto de uma escolinha de skate na pista da Prainha, mas parou por falta de apoio.

George auxiliando uma menina - Projeto Escola Radical


Fernando Faisca: Como está a relação Poder Público e UBER?

George Gonçalves: A relação melhorou bastante, hoje trabalhamos em sintonia, mas demoramos 9 anos para receber a primeira verba municipal. Acredito que a sociedade em geral e o poder público ainda considera os esportes de ação como apenas uma brincadeira.

Fernando Faisca: E como está o andamento do Projeto da nova Pista Pública?

George Gonçalves: Demorou esse tempo todo citado acima para sermos respeitados pelo poder público, mas as coisas estão agora em fase de conclusão. Uma coisa é certa, muita PERSISTÊNCIA foi necessária e ainda será para conseguirmos não só essa pista, como outras também. Estamos com projetos para pistas nos bairros de Blumenau, tipo miniramp ou bowl, mas isso é outra guerra ainda, acabamos de receber a carta de captação do governo do estado para a pista e estamos em processo de licitação. Esperamos que no máximo em junho estejamos com as obras iniciadas. Isso mostra a força de uma Associação, pois sem ela nem seríamos ouvidos pelo poder público.

Fernando Faisca: E como foi a extinção da lei que proibia a utilização do skate e similares em vias públicas?

George Gonçalves: Ano passado depois de um pedido da associação, foi realizada uma audiência pública na Câmara Municipal de Vereadores, tivemos a boa notícia que a lei 5211 seria revogada e agora podemos ir e vir com o skate nas calçadas novamente.

Fernando Faisca: Como você analisa a cena do skate amador em Santa Catarina?

George Gonçalves: Ele sobrevive graças à vontade dos skatistas em andar, pois as empresas investem pouco ou quase nada. Acredito que os maiores eventos de skate não passam por Santa Catarina, como exceção do Qix Amador do ano passado. As empresas continuam ganhando dinheiro aqui, é estranho, mas é uma realidade. Um pouco dessa culpa é dos próprios skatistas que não se agilizam para enviar projetos e para mostrar os seus trabalhos. Por isso, acredito que a UBER se diferencia de outras cidades, pois aqui o presidente anda de skate e tem amor pelo carrinho. O skate já me deu muitas alegrias ao longo desses 25 anos de estrada, acho que temos ótimos skatistas na região e no estado também, mas como não somos vistos, não somos lembrados. Acho que falta é uma federação que seja atuante e que tenhamos mais campeonatos nas cidades. Por aqui, estamos fazendo nosso trabalho e talvez com a união dos interessados possamos fundar uma federação para cuidar dos interesses dos skatistas num todo.

George Gonçalves e alunos


Fernando Faisca: Os objetivos da UBER para o ano de 2008?

George Gonçalves: Os nossos, além da pista de skate, são: a realização do Circuito Blumenauense de Skate, continuar a Escola Radical, Passeios Ciclístico, Dia Mundial na Cidade sem meu Carro, Festa dos 10 anos da UBER em maio (estão todos convidados) e continuar a batalhar para sermos considerados uma associação modelo em nosso estado. Quero lembrar também que nasci na cidade de Palmeira, no Paraná, com 20 mil habitantes e possui uma pista pública, fato engraçado comparado com cidades bem maiores sem local para andar de skate. Vim para Blumenau com 4 anos e desde então a considero como minha terra. Tenho um filho, chamado Gabriel, hoje com 5 anos e tento ao máximo incentivá-lo a andar de skate, pois não quero que ele passe por tantas dificuldades como eu passei. Espero que ele tenha vários amigos dentro do skate como eu tive e que talvez continue o trabalho que hoje tento realizar. Semente boa, planta boa, bons frutos, felicidade!

Fernando Faisca: Considerações finais:

George Gonçalves: Quero que todos estejam cientes que as coisas mudam quando nós mudamos, isso vale para todas as áreas e fases de nossas vidas. Parabéns Fernando Faísca pelo SkateemFoco e trabalho prestado em prol do skate em Santa Catarina. Agradeço também as marcas que sempre nos deram apoio e espero que elas continuem com a parceria e para finalizar peço aos skatistas e demais interessados, que valorizem realmente as marcas que apóiam e deixem de lado as "marquinhas" que só querem sugar de nós enquanto estamos na mídia. Lembre disso quando estiver dentro de uma loja comprando.

No mais agradeço pela oportunidade de expressar a minha opinião, deixo um abraço a todos os meus amigos de longa data que não vejo há anos e lembrando sempre: SKATE na VEIA! SKATEBOARDING IS NOT A CRIME!

Fotos: Acervo pessoal

Contato da UBER:
Fone: (47) 8412.7071
MSN: uberblumenau@hotmail.com

Lembrando a todos que neste final de semana, aconteceu em Blumenau a 1ª Etapa do Circuito Blumenauense, para maiores informações
click aqui.

Por: Fernando Faisca

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